História da Vida do Padre S. Francisco Xavier (1788)
Por Padre João Lucena
Historia da Vida do Padre S. Francisco Xavier e do que fizerão na India os mais Religiosos da companhia
de Iesv, composta pelo Padre Ioam de Lucena da mesma Companhia Os mais Religiozos da Companhia
de IESV, portuguez natural da Villa de Trancozo. Segunda, mas muy fiel edição. Feita por Bento Jozé de
Souza Farinha, Professor Regio de Filozofia, e Soc. Da Aca. Real das Sciencias de Lisboa.
Lisboa Na Officina de Antonio Gomes. MDCCLXXXVIII [1788]
In 8º de 4. Vols. com [4]-423-[8]; [2]-458-[6]; [2]-386-[6], [2]- 418- [8] págs. E.
Rara e importante obra para a história da expansão portuguesa na Ásia. Azevedo e Samodães, 1856
(sobre a primeira edição): «Obra de muito merecimento para a história das missões e do nosso domínio
nas Índias Orientais durante a segunda metade do século xvi. Seu autor é considerado como um dos
melhores clássicos da nossa língua, e isso muitíssimo contribui para a grande e justificada fama bem
justificada estima que o livro desfruta, não só nos escritores e bibliófilos nacionais, mas também
estrangeiros [?]» Inocêncio III, 399. ?P. JOÃO DE LUCENA, Jesuita, natural da villa de Trancoso, n. em
1550, e m. em Lisboa na casa professa de S. Roque em 1600, contando por conseguinte 50 annos
d'edade. Historia da vida do Padre Francisco de Xavier, Pedro Craesbeeck. Em Lisboa. Anno do Senhor
1600. fol. Tem, afóra o frontispicio, mais dous retratos gravados em chapas de metal, os quaes todavia
faltam em varios exemplares que tenho visto. Foi traduzida em italiano, e sahiu impressa em Roma, por
Zannetti 1613. 4.º, e em castelhano, Sevilha, por Francisco de Lyra 1619. 4.º Ibi, 1699; e dizem que o
fôra tambem em latim. A edição portugueza de 1600 é pouco vulgar, e assás estimada. D'ella fez Bento
José de Sousa Farinha uma segunda edição, que elle dá por mui fiel, e sahiu: Lisboa, na Offic. de
Antonio Gomes 1788. 8.º 4 tomos. Com esta historia o P. Lucena abriu-se praça entre os mestres mais
insignes da pureza da nossa lingua. Suave no estylo, loução e polido no dizer, grave nas sentenças, e
escrupuloso na escolha das palavras, tem sido universalmente respeitado pelos nossos criticos e
philologos, todos concordes em reconhecerem e apreciarem o seu grande merecimento. Para confirmar
este juizo, transcreverei aqui dous testemunhos, cuja competencia não deve ser contestada. Seja o
primeiro o do P. Francisco José Freire, nas Reflexões sobre a Ling. Portug., parte 1.ª Diz elle: «O P. João
de Lucena merece occupar logar na classe dos mestres da primeira nota: porque a sua vida de S.
Francisco Xavier é escripta com tal propriedade, energia, e pureza de lingua, que os muitos elogios com
que os sabios honram a sua memoria não são os que bastam para quem tanto honrou com a sua pura
locução aquella linguagem portugueza, que a critica só reconhece por genuina. Foi injustamente arguido
de usar de diversos termos destituidos de classica auctoridade, mas o certo é que de todos os que lhe
arguem ha exemplos seguros, como facilmente mostrariamos, se fosse nosso assumpto fazer aqui a
apologia do P. Lucena.» Seja o segundo o do P. José Agostinho de Macedo, no seu opusculo Os Frades,
ou reflexões philosophicas, etc., a pag. 67, onde fallando de Lucena se exprime nos termos seguintes:
«É um dos nossos melhores classicos, e muito seguro texto; e sendo por este lado tão digno do nosso
respeito e reconhecimento, ainda o considero mais por outro lado, e vem a ser: pelas noções que nos
dá, e pelas noticias que só elle, entre todos os viajantes, nos dá dos costumes, das leis, da religião de
muitos povos do ultimo oriente, isto é, dos habitantes das ilhas que formam o imperio do Japão, e de
muitas outras do Oceano Pacifico, por onde S. Francisco Xavier levado pelos portuguezes, estendeu a
sua vastissima e apostolica missão. São dignos do verdadeiro philosopho os maravilhosos quadros
daquellas disputas e altercações, em que o sancto com os sagacissimos bonzos de continuo entrava,
onde estão expostos os principios da theologia natural, por onde sempre começava a convencel-os da
necessidade da divina revelação. E estão estas grandes cousas como escondidas e ignoradas no mundo,
no canto incognito de um livro portuguez, e o peior é, que de todo ignoradas, ou não attendidas pelos
mesmos portuguezes. Se os francezes tivessem feito aquelle livro, teria mais edições do que tem uma
folhinha, ou de porta ou de algibeira.”
Encadernações inteiras de pele da época. Bom exemplar.