Dissertação Histórico-Critica – Origens do culto a Nossa Senhora da Nazaré (1786)
Dissertação Histórica-Critica em que Claramente se Mostram Fabulosos os factos, com que está enredada a
vida de Rodrigo Rei dos Godos: que esse monarca na batalha de Guadalete morreo: que são apócrifas as
peregrinações da Imagem Milagrosa de N. Senhora venerada no termo da Villa da Pederneira: que não é
verdadeira a Doação, que muitos crêm fez á mesma Senhora D. Fuas Roupinho, Governador de Porto de
Mós. AUTHOR FR. MANUEL DE FIGUEIREDO, Chronista dos Cisterciences de Portugal, e Algarves. LISBOA.
NA OFFICINA DE FILLIPE DA SILVA E AZEVEDO. ANNO M. DCC. LXXXVI. (1786) Com Licença da Real Meza
Censoria. Com Licença da Real Meza Censoria. De 28x20 cm. com 111 págs. [1 fol.]
Trabalho muito importante relativo à grande polémica sobre as origens do culto a Nossa Senhora da
Nazaré, inserida na disputa entre o Mosteiro de Alcobaça e a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, pela
jurisdição do território onde se situava o Santuário. O autor sustenta que D. Fuas Roupinho, não doou, nem
o poderia ter feito, as terras do termo da vila da Pederneira ao Santuário. O litígio, com origens no século
XVI, recebeu célebre contributo de Frei Bernardo de Brito na Monarquia Lusitana e de muitos outros
historiadores. Frei Manuel de Figueiredo, todos ultrapassa pelo rigor e método crítico com que desenvolveu
o seu trabalho de investigação. Pedro Penteado, autor do estudo fundamental para o conhecimento do
Santuário, cita a obra várias vezes, além do elucidativo extracto, que transcrevemos a seguir, precisamente
pela elevada qualidade e nível científico do trabalho de Figueiredo.
Ver: PENTEADO. (Pedro). PEREGRINOS DA MEMÓRIA. O Santuário de Nossa Senhora da Nazaré.
1600-17Lisboa. CEHR-UCP. 1998, p. 90 - "Frei Manuel de Figueiredo publicava em Lisboa uma invectiva
pública contra a memória histórica do Santuário da Senhora. Referimo-nos sua Dissertação histórico-crítica.
Na obra, como o próprio título indica, o autor tentava refutar, criticamente, a doação em que a Confraria de
Nossa Senhora de Nazaré se apoiava para a posse de jurisdição sobre o Sítio. Mais ainda, provava que essa
jurisdição tinha sido usurpada ao Mosteiro de Alcobaça. Eis alguns dos pilares da sua argumentação,
devidamente sistematizados:1. O Rei dos Godos, Rodrigo, não poderia ter trazido a Imagem de Nossa
Senhora de Nazaré para o Sítio, por ter falecido na batalha de Guadalete.2. D. Fuas Roupinho, que não era
capitão de Porto de Mós, não poderia ter doado terras à Senhora já doadas pelo primeiro Rei ao Mosteiro
de Alcobaça. Além disso, o cavaleiro morrera antes da data enunciada pela escritura.3. O documento não
era conhecido antes de ser divulgado por Frei Bernardo de Brito, seu autor.4. A sua divulgação no século
XVII veio reforçar os interesses da Confraria, que assim encontrou argumento para definitivamente se
escapar à jurisdição do Mosteiro, então sobre administração dos comendatários." Ibi p. 91 - "Esta obra
deveria ter sido lida sobretudo pela elite dominante da Sociedade portuguesa da época, para quem os
argumentos de Frei Manuel de Figueiredo não pareceram totalmente convincentes. Constituía uma das
ideias chave do imaginário político ibérico a sobrevivência de D. Rodrigo para além de Guadalete e esse foi
um dos entraves à credibilidade da dissertação do cisterciense Contudo, a publicação fez movimentar os
meios intelectuais portugueses. O autor sofreu pressões sociais incómodas e duras críticas, estando ainda
na origem de calorosos debates públicos. A tal ponto chegou a polémica que se viu obrigado a produzir
uma Segunda dissertação histórica e crítica [.], para reforçar as suas anteriores teses, com novos
argumentos. O que é significativo neste levantamento de suspeitas sobre a veracidade da doação de D.
Fuas é que o cistercien. Encadernação defeituosa. Anotações da epoca nas margens do texto. Muito raro.