Religiões da Lusitânia – Loquuntur Saxa
Comissariado científico: José Cardim Ribeiro
Museu Nacional de Arqueologia. Lisboa. 2002
In 4° com 574 págs. Ilust. E.
Consta no prefácio do Comissário Científico :“O fenómeno religioso, na sua historicidade, tem sido alvo de
múltiplas abordagens interpretativas. Recorde-se Frazer e a abrangência comparativista; Lévi-Strauss e os
arquétipos estruturalistas; Dumézil e os esquemas funcionalistas; Eliade e a universalidade do simbólico.
Porém, nada mais genial do que a breve metáfora engendrada pelo inglês Murray, desde logo adotada e
desenvolvida por Dodds no seu irreverente estudo sobre a cultura grega e o irracional: o fenómeno
religioso revela-se, em todas as épocas e regiões, como um “conglomerado herdado”. E comenta Dodds: “A
metáfora geológica é feliz porque o crescimento religioso é (...) a aglomeração mais do que a substituição”.
Por isso, quando hoje estudamos as religiões do passado, não procuramos apenas conhecer melhor as
nossas longínquas raízes culturais, antes lidamos com qualquer coisa ainda presente – embora de forma
parcelar e, por vezes, subjetiva – na nossa atual vivência como Homo religiosus que (queiramos ou não...)
todos somos.
Daí, o inusitado e sempre crescente interesse que desperta, no grande público, a abordagem destes
temas. Daí, o esperado êxito da futura exposição promovida pelo Museu Nacional de Arqueologia, no virar
dos milénios, sobre as Religiões da Lusitânia.
Hispania Aeterna e Roma Aeterna. Duas tradições que convergem e se sincretizam por força da Pax
Romana. Mas que o Oriente, donde sempre vem a Luz, acaba por “converter”... E o “aglomerado” vai-se
avolumando, encobrindo ou evidenciando aqui e além alguns dos seus componentes, mas nada perdendo,
tudo armazenando. São forças secretas da Natureza, numina tutelares, divindades várias, heróis
deificados, práticas rituais e mágicas, a Vida e a Morte. São textos obscuros, que é preciso decifrar para
ler, são objetos e imagens de um passado duas vezes milenar que, após descodificados, se vêm a revelar
bem mais presentes do que suporíamos. Será o Tempo uma quimera?
Um nome, por detrás de tudo isto: Leite de Vasconcellos, o grande investigador que, há cem anos, pela
primeira vez estudou exaustiva e metodicamente as Religiões da Lusitânia. Uma homenagem? Sem dúvida!
Mas, certamente, muito mais do que isso...”
Encadernação editorial. Bom exemplar.